Inacreditável: Michelle Bolsonaro sugere que tentativa de golpe foi armação de Lula

9 de Janeiro, 2025

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Diante do silêncio de Jair Bolsonaro no marco de dois anos do 8 de janeiro, coube à ex-primeira-dama a tarefa de alimentar teorias da conspiração para livrar extremistas e marido da responsabilidade

O ex-presidente Jair Bolsonaro, prestes a se tornar réu pela tentativa de golpe de Estado, evitou tecer comentários, nesta quarta-feira (8), sobre o marco de dois anos da invasão às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

Coube à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, uma das poucas pessoas do círculo do ex-presidente que não é investigada pela trama golpista, a tarefa de alimentar teorias conspiratórias na data. Através dos stories do Instagram, a esposa de Bolsonaro publicou uma sequência de imagens sugerindo que o 8 de janeiro teria sido uma armação do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A armação sendo registrada”, diz a primeira publicação, que traz um vídeo das imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto mostrando o general Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), vistoriando a destruição na sede da presidência logo após os ataques.

Na sequência, a ex-primeira-dama postou uma série de “fatos” que, segundo ela, demonstrariam que o levante golpista teria sido uma armação do próprio governo. Todos esses “fatos”, entretanto, já foram desmentidos e esclarecidos, e a Polícia Federal (PF) apresentou um relatório consistente, com mais de 800 páginas indicando provas e evidências, em que indicia Bolsonaro e outras 39 pessoas pela trama golpista que culminou no 8 de janeiro.

“No dia 8, oito coisas para se lembrar”, diz a postagem seguinte de Michelle, que é seguida por oito imagens com teorias conspiratórias colocando em xeque a responsabilidade dos bolsonaristas pelos atos golpistas. Na primeira publicação que vem a seguir postada por Michelle, se lê: “Lembrar que desapareceram com as imagens do Ministério da Justiça”.

Acontece que o Ministério da Justiça não foi invadido pelos golpistas e que as imagens do circuito interno do prédio foram compartilhadas tanto com membros da CPMI dos Atos Golpistas quanto com a PF.

Entre outras imagens com frases na mesma linha, Michelle publicou uma que chama ainda mais atenção: questionando o fato de Lula não estar em Brasília no dia da tentativa de golpe e ter ido para Araraquara, em uma sugestão de que o presidente saberia antecipadamente do levante antidemocrático e que teria deixado a capital federal de propósito.

“Lembrar que Lula saiu de Brasília de última hora e sem agendamento antecipado para Araraquara (SP) no dia da baderna”, diz a postagem de Michelle.

A verdade é que Lula deixou Brasília antes do início dos atos golpistas e foi a Araraquara em caráter de urgência devido às enchentes que assolavam a cidade à época. Na ocasião, seis pessoas de uma mesma família haviam morrido em decorrência das chuvas e Lula foi ao local para vistoriar a situação e oferecer apoio do governo federal.

Segundo o livro “Uma Cidade na Luta pela Vida, da Pandemia ao 8 de janeiro”, do ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, Lula quando soube da invasão aos prédios dos Três Poderes, queria embarcar imediatamente para Brasília, mas foi convencido por aliados a montar um gabinete de crise em Araraquara.

“Era típico de Lula liderar sem intermediários. Mas a reação de quem estava na sala foi com a mesma ênfase: ele não poderia ir para Brasília sem que a situação estivesse sob total controle”, escreveu Edinho. “Era um risco Lula tentar voltar, um risco real ele não conseguir sair do aeroporto, um risco ele ficar sitiado na base aérea, um risco os golpistas tentarem invadir o aeroporto”, prosseguiu o ex-prefeito.

PF deve indiciar financiadores do golpe

A Polícia Federal (PF) prepara um novo relatório sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil que servirá como um complemento ao documento apresentado em novembro que indiciou 40 pessoas pela trama golpista, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto.

Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, os depoimentos e materiais obtidos na operação Contragolpe, que levou o general Mário Fernandes à cadeia e desbaratou um plano no âmbito da tentativa de golpe que visava assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estão em análise e servirão de base para o novo relatório, que deve indiciar nomes até então ocultos na trama golpista.

Em entrevista ao jornal O Globo na última segunda-feira (6), Andrei Rodrigues indicou que, entre os indiciados no novo relatório a ser apresentado, deverão constar os financiadores da tentativa de golpe, entre eles o “pessoal do agronegócio” que, segundo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid em delação premiada, teria dado o dinheiro entregue por Braga Netto a militares “kid preto” para executar o plano de assassinar autoridades.

“Ainda permanecem questões que estão sendo apuradas, até em razão da Operação Contragolpe (realizada em novembro). A partir das apreensões realizadas nessa fase, de depoimentos coletados, dos que ainda serão tomados e de outros fatores que estão sendo apurados, vamos finalizar um relatório complementar que também vai servir de base para a Procuradoria-Geral da República fazer a análise”, disse Rodrigues.

“Há expectativa das pessoas de que houvesse um ou alguns grandes financiadores, mas a investigação é clara ao apontar que houve várias pessoas, algumas já presas e condenadas. Um cedeu um ônibus, outro cedeu água, outro cedeu comida… Existe essa pulverização. E agora há esse fato trazido pelo depoimento [de Mauro Cid]. Vai ser apurado exatamente de onde saiu esse valor. Mas são detalhes que não interferem no seio da investigação, que apontou cabalmente a tentativa de golpe”, prosseguiu.

“Nós não vamos perseguir nem proteger ninguém. Se houver um fato novo que atenda aos requisitos jurídicos, técnicos e legais, é possível, sim, que outras prisões ocorram. Ninguém está imune à legislação. Todos temos o mesmo sentimento de que precisamos separar as instituições daquelas pessoas que se desviaram. Inclusive, um policial federal já foi preso. Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, seja militar, policial, profissional liberal…”, disparou Rodrigues.

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