Insulto de Janja a Musk vira munição bolsonarista e causa problemas para diplomatas no G20

18 de Novembro, 2024

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Primeira-dama insultou o bilionário durante um painel sobre desinformação no evento Cria G-20

No último sábado (16), a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja , insultou o bilionário Elon Musk durante seu discurso em uma das conferências do G20 . A polêmica, que levou o presidente Lula a dizer que não era preciso “xingar ninguém”, foi criticada por membros do governo, como diplomatas e ministros. Além disso, foi amplamente repercutida por personalidades importantes da direita, como o próprio Jair Bolsonaro e a senadora Damares Alves, o que inflou ainda mais a cúpula bolsonarista.

Durante um painel sobre desinformação no evento Cria G-20, Janja falava sobre a necessidade da regulamentação das plataformas de mídia social. No momento, uma falha técnica no som interrompeu sua fala, e ela fez uma piada: “Acho que é o Elon Musk”. Logo depois, a primeira-dama disse: “Eu não tenho medo de você, inclusive. Fuck you, Elon Musk”.

Horas depois, Lula disse, sem mencionar diretamente o ocorrido, que “não temos que xingar ninguém”.

“Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém. Nós precisamos apenas indignar a sociedade”, disse o petista no festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.

Musk reagiu ao episódio rapidamente. Em seu perfil no X (antigo Twitter). Usando a sigla “lol” (abreviação de “laughing out loud” ou “rindo alto”), o empresário ironizou a situação. Em outro post, Musk disse que o atual governo de Lula “vai perder a próxima eleição”, sugerindo uma derrota política para o PT nas urnas em 2026.

Tensão no governo

Em agosto deste ano, Musk protagonizou um embate contra o Supremo Tribunal Federal (STF), mais especificamente o ministro Alexandre de Moraes, por se recusar a respeitar ordens judiciais relacionadas ao funcionamento do X no país. Na época, Lula disse que o empresário estava sujeito às leis do país, e completou: “Ele [Musk] não pode ficar ofendendo. (…) Ele pensa que é o quê? Ele tem que respeitar a decisão da Suprema Corte brasileira.”

Após meses de troca de farpas, que levaram a rede social a ser bloqueada no Brasil, Musk finalmente cedeu às ordens do judiciário, e a rede voltou a funcionar. Na mesma época, o bilionário voltou seus esforços para a campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Trump venceu a corrida pela Casa Branca e, como era de se esperar, agradeceu a ajuda de Musk – que usou sua rede social para uma campanha de fake news contra Kamala Harris – concedendo a ele um cargo em seu governo.

É por isso que ministros e diplomatas do governo Lula ficaram estarrecidos com a declaração de Janja: Elon Musk não é mais apenas um empresário, e sim o futuro chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) dos Estados Unidos. Sendo assim, a avaliação geral é que a fala da primeira-dama tem chances de comprometer a diplomacia entre os dois países futuramente e até arriscar a campanha da esquerda nas próximas eleições, dada a proximidade de Trump com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além de Trump e Musk, a fala de Janja foi vista como uma flecha no que é considerado o “calcanhar de Aquiles” do G20: as relações com o presidente da Argentina, Javier Milei, que não só é próximo da ala internacional da extrema-direita, como também tem sido a oposição em negociações finais da aliança econômica.

Críticas da ala Bolsonarista

A fala de Janja foi uma munição inesperada para o bolsonarismo. O próprio Bolsonaro, que já chegou a falar em “pólvora” enquanto criticava o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante o seu governo, disse após o episódio: “Já temos mais um problema diplomático”, publicou com uma imagem de Janja divulgada por um veículo internacional.

A fala do ex-presidente motivou seus apoiadores a repercutirem a polêmica, o que levou o nome de Janja aos tópicos mais comentados do Twitter, acompanhado de várias menções depreciativas e machistas.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro, também se mostrou indignada com o episódio. Em uma mensagem no X (antigo Twitter), ela classificou a fala como “inaceitável” e criticou tanto a declaração de Janja quanto a audiência do evento, que teria rido da situação.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por sua vez, disse: “Saudades quando a ‘crise diplomática’ do Bolsonaro era chamar a mulher do Macron de feia”. Ele se referiu ao episódio em que o ex-presidente fez um comentário ofensivo à aparência da primeira-dama da França, Brigitte Macron. À época, ele se recusou a pedir desculpas também.

“Uma postura imatura, deslumbrada e inconsequente”, disse João Amoêdo, ex-membro do partido Novo, que já declarou voto em Lula nas eleições de 2022. Amoêdo também condenou a atitude de Janja, dizendo que ela agiu de forma “incompatível com a posição que ocupa”.

Já o secretário-geral do PL e senador Rogério Marinho (PL-RN) foi mais sucinto sobre o comentário de Janja e ironizou: “Que elegância”.

 

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