Eleição sem Lula? Petistas não querem nem discutir possibilidade para 2026

5 de Janeiro, 2025

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Episódios recentes envolvendo a saúde de Lula abriram debate sobre condições de enfrentar campanha em 2026 aos 80 anos

BRASÍLIA – A hipótese de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não concorrer à reeleição passou a ser aventada no mundo político, após ele passar por um procedimento e uma cirurgia para drenar um hematoma intracraniano no início de dezembro. Mas dentro do PT ninguém cogita uma eleição presidencial em 2026 sem Lula. “Não existe essa discussão dentro do partido. Sem Lula, a gente perde”, afirma um petista.

Esse posicionamento contraria, entretanto, declarações do próprio presidente Lula. Em 2022, enquanto ainda era candidato, ele afirmava que este mandato seria sua última participação na política – tanto pela sua idade quanto pela necessidade de renovação na esquerda. Depois da posse, o petista mudou o tom e passou a dizer que a decisão dependeria do contexto político e de suas condições de saúde.

Lula fará 80 anos em 2025. No fim de setembro de 2023, ele foi submetido a uma cirurgia para a colocação de uma prótese no quadril para tratar sintomas da artrose. O petista também passou por uma cirurgia de emergência no início de dezembro de 2024 para drenar um hematoma intracraniano, consequência de uma hemorragia causada por uma queda no banheiro que sofreu em 19 de outubro. Em seguida, submeteu-se a um procedimento para interromper o fluxo de sangue na região do cérebro e impedir novos sangramentos.

Os aliados minimizam esses recentes episódios envolvendo a saúde do presidente e garantem que ele tem condições de enfrentar uma campanha. “O presidente está em sua melhor forma. Nunca vi ele tão bem, e o conheço há mais de 20 anos”, declarou o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG).

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, também defendeu que o atual chefe do Executivo seja candidato à reeleição em 2026, mas acredita que o ideal seria ele reduzir a carga de trabalho.

“Eu tenho plena convicção de que ele vai chegar na hora certa muito forte e com saúde para poder definir o que ele quer para o futuro. Eu defendo que ele seja candidato à reeleição. Ele tem saúde, ele é popular, tem a confiança de um campo político que ele lidera […]. Agora, se ele vai, a decisão é dele. Ele é que vai ter que tomar na hora certa”, disse a jornalistas.

“Eu acho que todo ser humano tem que ter um tempinho para descansar, para ficar com a família, para poder viver, e ele trabalha demais. Ele tem muita pressa pra que as coisas aconteçam”, acrescentou.

Em entrevista à CNN Internacional, em novembro, o presidente negou que esteja “velho” demais para concorrer à reeleição em 2026, mas pontuou que poderia abrir mão da disputa caso “não seja necessário”.

“Governar não é jogar futebol, não é praticar esporte, não é o problema da juventude que vai resolver o problema da governança. É a competência do governante, a saúde, a cabeça e os compromissos. Se chegar na hora e os partidos que me apoiam entenderem que não tem outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema direita, negacionista, que não acredita na medicina, na ciência, estarei pronto para enfrentar. Mas espero que não seja necessário. Eu espero que tenha outros candidatos e se possa fazer uma grande renovação política no Brasil e no mundo”, disse, na ocasião.

Dificuldade de nomes no campo da esquerda adia debate

A grande questão nessa discussão é essa: encontrar um nome competitivo para a sucessão ao Planalto. O mais cotado para substituir Lula é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já concorreu à Presidência em 2018, quando o petista se encontrava preso. Haddad, inclusive, aparece em pesquisas eleitorais que mostram que o ministro venceria os principais nomes da direita.

Apesar desses resultados, petistas admitem que vencer a eleição sem Lula será difícil. A própria presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), já declarou que não vê “um outro nome com capacidade de disputa na sociedade brasileira”.

O próprio Haddad já alertou sobre o problema. Em entrevistas, já disse que, embora haja consenso dentro do partido e na base aliada para que Lula concorra ao quarto mandato, o problema de um sucessor “vai se colocar” na eleição seguinte e que o partido precisa começar a se preparar para a transição.

A fala foi, inclusive, criticada pela presidente do PT, que chamou de “extemporânea” a discussão.

Discussão no PT atualmente gira em torno da sucessão no partido

Petistas afirmam que a discussão no momento é sobre a sucessão da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. As divergências entre Gleisi e Haddad, principalmente nas medidas de corte de gastos, não são novidade dentro do partido e interferem também na disputa, que deve acontecer em julho deste ano.

De um lado, Gleisi apoia o nome do líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE). De outro, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, mais alinhado com Haddad, conta com o apoio do presidente Lula.

A disputa ainda está acirrada, mas segundo integrantes do partido, Edinho já se mostra como o favorito. “Edinho tem mais interlocução com os diversos setores da sociedade”, diz o deputado Reginaldo Lopes.

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