BRASÍLIA — O criminalista Paulo Cunha Bueno desembarcou em Brasília ao lado do cliente Jair Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira (25) e declarou ter “convicção” na cautela da Procuradoria-Geral da República (PGR), que analisará o inquérito da Polícia Federal (PF).
“O procurador-geral da República [Paulo Gonet Branco] é uma pessoa extremamente respeitada. Temos convicção de que terá toda cautela ao analisar a investigação”, afirmou. “Esperamos que o Ministério Público Federal tenha uma participação que não pôde ter ao longo do tempo nessa investigação”, completou.
A investigação da Polícia Federal terminou com os pedidos de indiciamento de Bolsonaro e 36 de seus aliados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
O inquérito entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) constatou a existência de um plano para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à época recém-eleito presidente do Brasil — matando-o e também executando o ministro Alexandre de Moraes e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
O documento deve chegar às mãos do PGR nesta terça-feira (26) e caberá a ele decidir o futuro dos 37 indiciados. Paulo Gonet Branco pode denunciá-los ao STF, arquivar o inquérito ou pedir à Polícia Federal que mais investigações sejam feitas. O Ministério Público Federal (MPF) terá 15 dias para se manifestar.
Operação Contragolpe e indiciamento por golpe de Estado
A Polícia Federal prendeu quatro militares na última terça-feira (19), entre eles um general da reserva, e um agente da própria PF que teriam planejado um atentado contra o Estado Democrático de Direito. O grupo queria matar Lula e Alckmin para impedir a posse da chapa vitoriosa na eleição presidencial. O terceiro alvo do grupo era o ministro Alexandre de Moraes.
Foram presos na operação Contragolpe:
Mário Fernandes: general reformado que atuou como secretário-executivo da presidência da República na gestão Bolsonaro; também trabalhou no gabinete de Eduardo Pazuello na Câmara dos Deputados como assessor.
Rafael Martins de Oliveira: militar das Forças Especiais do Exército — integrava o grupo dos “Kids Pretos”.
Rodrigo Bezerra de Azevedo: compartilhava formação nas Forças Especiais com Rafael Martins de Oliveira e também pertencia aos “Kids Pretos”.
Hélio Ferreira Lima: com formação nas Forças Especiais, era também dos “Kids Pretos”.
Wladimir Matos Soares: único policial federal que integrava o grupo.
O inquérito da PF indica que Mário Fernandes era o mentor do plano “Punhal Verde e Amarelo”. Ele previa o uso de armas pesadas, como metralhadoras, fuzis e granadas, para dar cumprimento aos planos. O grupo planejava a instalação de um gabinete de crise, que assumiria a gestão dos conflitos após a execução do plano.
Dois dias após a operação Contragolpe, a Polícia Federal remeteu ao STF o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado no país. A investigação constatou a existência de uma organização criminosa que atuou para manter Bolsonaro no poder apesar da derrota nas eleições.