“Eu sou o espírito que tudo nega.” (Mefistófeles, em “Fausto”)
Em 2 de setembro de 1808, o grande escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe foi chamado para um encontro com o imperador francês Napoleão Bonaparte. Dois anos antes, as tropas de Napoleão haviam invadido e saqueado a cidade de Weimar, onde vivia Goethe. A casa de Goethe foi poupada, mas vários amigos do poeta sofreram muito naquela invasão. Assim que viu Goethe, à época já um escritor consagrado, Napoleão exclamou admirado:
— Eis um homem!
Napoleão — que teria lido várias vezes o romance “Os Sofrimentos do Jovem Werther” — perguntou ao sábio alemão se ele escrevia tragédias, e obteve resposta afirmativa. Em seguida, chamou Goethe a um canto e disse-lhe uma das frases que gostava de repetir sempre:
— Destino é política.
Na visão do imperador e revolucionário francês, a política era o destino concreto de nosso tempo. Não por acaso, naquele mesmo ano, Goethe finalizou a primeira parte da tragédia “Fausto”, uma obra-prima da literatura universal, que conta a história de um homem que aposta sua própria alma com o diabo Mefistófeles em troca de poder e prazer. Fausto é uma espécie de imagem do homem moderno, que acredita poder moldar o próprio destino sem a graça de Deus.
Napoleão estava certo. A política parece ser, de fato, o destino concreto de nossa época — e, ao mesmo tempo, nossa vergonha e nossa tragédia. No dizer do escritor Luiz Carreira, estamos “doentes de política” e somos, portanto, incapazes de ver a dimensão trágica do que está acontecendo conosco.
O episódio em que a primeira-dama Janja Lula da Silva insultou Elon Musk — “F(…) you, Elon Musk” — é um exemplo de como a tragédia nacional se transforma em farsa.
Com seu escasso domínio da língua portuguesa, Janja tentou atacar Musk numa língua estrangeira que ela também não fala, e o resultado foi um papelão diplomático que vai sair muito caro ao Brasil — mais caro até do que as viagens nababescas de Janja e seu marido pelo mundo.
O mais doloroso, porém, não é a vergonha que Janja nos faz passar, mas a tragédia que ela tenta encobrir.
Ex-visitante do ex-presidiário, a militante esquerdista é personagem da farsa que reconduziu Lula e o PT ao poder
Ela, porém, não se contenta em desempenhar um papel discreto, como seria de se esperar de qualquer primeira-dama digna do nome. Ao contrário, faz questão de ocupar o primeiro plano das ações.
Janja se tornou uma espécie de ministra sem pasta do regime PT-STF. Sem pasta e sem noção: dá palpite e se manifesta sobre todos os setores do governo, atuando como conselheira-geral cujos conselhos não foram solicitados.
O “poblema” de Janja não consiste apenas no fato de ser “inresponsável” e de ter “abrido” uma crise por semana desde a fatídica posse de seu marido.
O verdadeiro X da questão é que ela representa aquilo que é mais desastroso na mente esquerdista: a certeza de possuir uma fórmula infalível para transformar radicalmente o mundo por meio da concentração de poder e da destruição dos adversários.
Tudo que Janja faz — e nisso ela reflete com perfeição o espírito da ditadura jurídico-socialista — resume-se em defender Lula e seu governo dos ataques maliciosos da realidade. Para a ministra de assuntos aleatórios, se a verdade não confirma a narrativa, censure-se a verdade! F… you, reality!
No mesmo discurso catastrófico, Janja se referiu ao chaveiro Francisco Wanderley Luiz como “o bestão que se matou com fogos de artifício”. Como já observei numa crônica anterior, o homem apresentava claros sinais de perturbação mental. Mas a mente esquerdista, capaz de reduzir tudo a política, fecha os olhos diante da tragédia do país — a verdadeira causa do suicídio de Francisco — para transformar tudo numa questão de “nós ou eles”, numa contrafação farsesca, mas não menos letal, da luta de classes marxista.
Neste final de semana, a ex-esposa de Francisco, que o havia acusado de forjar um plano para matar ministros do STF, tentou suicídio ateando fogo na própria casa. Ela também é uma “bestona”, Janja?
A ausência de compaixão — outra característica fundamental na mente esquerdista — é visível em quase todas as falas de Janja. Para ela e tantos apoiadores do regime, o drama dos milhares de brasileiros inocentes presos ou exilados em consequência do 8 de janeiro é motivo de escárnio e desprezo.
Há alguns meses, o agricultor Jorge Cardoso de Azevedo, o Jorginho, de 63 anos, entrou em depressão e tentou o suicídio numa cela do presídio da Papuda. Foi salvo da morte por seus companheiros de infortúnio. O crime de Jorginho foi estar na Praça dos Poderes — onde chegou às 18h50, bem depois dos atos de depredação — e buscar proteger-se das bombas da polícia em um prédio do governo no dia 8 de janeiro de 2023.
Por isso ele foi condenado a 16 anos de prisão e está afastado da mulher com quem é casado há 40 anos, dos filhos e do pai, seu melhor amigo, hoje com 91 anos. Jorginho também é um “bestão”, Janja?
O Brasil de Janja é o país em que a vergonha e a tragédia não apenas reinam, mas tentam mutuamente ocultar-se. Ainda assim, tenho a certeza de que essa farsa não vai durar para sempre. Haverá um justo juiz.